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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

Hino do seringueiro

Vamos dar valor ao seringueiro, Vamos dar valor a esta nação, Porque com trabalho deste povo É que se faz pneu de carro e pneu de avião. Fizeram a chinelinha, fizeram o chinelão Inventaram uma botina que a cobra não morde Não Tantas coisas da borracha eu não sei explicar não Encontrei pedaço dela em panela de pressão. Não é com chifre de vaca que se apaga a letra não São produtos fabricados feitos pelas nossas mãos. Autor: popular Foto: *Sr. Romildo Sales Campos Barbosa – de Thiago Nichele

A invasão dos porcos

Esta é mais uma história que só poderia acontecer no principado de Xapuri. Os fatos aqui relatados são históricos e recheados de pormenores que outros chamariam de licença poética. Se a memória da Deise e do Augusto não falha, a tal invasão aconteceu no ano de 1928. Naquela época o principado era um pequeno ajuntamento de fortes e bravos. Homens e mulheres que fincaram suas raízes no chão das fagáceas e euforbiáceas para construir o futuro. Havia libaneses recém-chegados, portugueses instalados e arigós espalhados e por vir. Neste balaio edificava-se uma sociedade fraterna, alegre e recheada de causos. Estradas não havia. Mas tinham chatas* e batelões. O Rio Acre era a via transporte e quando enchia era uma beleza: o boto perdia a maninha e o barranco ficava miúdo. As ruas eram de terra e sem energia elétrica. Quando chegava embarcação com gado para o curre**, era uma farra: - Corre que lá vem o boi brabo! Os carnavais nesta época eram charmosos e elitizados. Mas o rancho po

Xapuri em imagem: A borboleta

  "O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!" (Mário Quintana) A foto é de Jannyne Barbosa.

Gente de Xapuri

Xapuri é terra especial. É uma cidade guerreira que não feneceu sob as garras de seus inimigos e as sucessivas lutas empreendidas com o intuito principal, pode parecer, de simplesmente destruí-la, transformá-la em cinzas. Mas, o que nenhum ser maléfico poderia contar é que Xapuri é cidade guerreira, que como a Fênix, ressurge das cinzas assim que as chamas de cada pancada é desferida sobre seu cansado seio. E não podia ser diferente, pois terra especial somente poderia dar frutos especiais. Gente de Xapuri é gente especial. São homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, negros, brancos, índios, seringueiros, artistas guerreiros do incansável palco da vida xapuriense. Alguns nasceram em Xapuri, outros vieram do nordeste e ainda existem aqueles que descendem de pessoas oriundas da Europa e do Oriente próximo. Tem aqueles que moram nas mais distantes florestas, outros nas mais próximas ruas da cidade. Há aqueles que ainda são seringueiros, mas existem os que já foram um dia. Exist

O famoso leite da castanha

O tempero mais apreciado pelos seringueiros é o famoso leite da castanha, extraído da castanha, ainda cultivada nos seringais. É considerado como substituto do óleo nos temperos das carnes de caça, dando um sabor diferenciado a elas, que posteriormente, com a saída de algumas famílias seringueiras para a cidade, foi absorvida pela maioria dos xapurienses. A extração do leite da castanha inicia-se com a coleta, depois vem a quebra do ouriço para retirar a castanha, descascar, lavar, ralar, acrescentar água e peneirar, no intuito de que fique um leite grosso. O jabuti tornou-se um prato tradicional na culinária acreana, bastante degustado no passado, quando encontrava-se esse animal em maior quantidade dentro da mata. O famoso jabuti ao leite da castanha já deve ter sido degustado por todos. Quem não degustou, certamente, já deve ter ouvido falar da iguaria por alguns parentes, avós, tios ou amigos próximos. Uma particularidade de alguns moradores é o gosto pelas carnes com osso a

Xapuri em imagem: A Castanheira

Foto de Alécio César.

Casas Aviadoras

Na década de 1930, Xapuri vivia seu apogeu. Com o auge da borracha, havia o acelerado movimento portuário, agregando lanchas, navios, chatas, batelões, motor de rabeta e várias embarcações, onde os estivadores passavam a noite inteira no embarque e desembarque de mercadorias, para que, pela manhã bem cedo, antes que as águas baixassem e o sol aparecesse, os navios partissem lotados com borracha e castanha. Circulava muito dinheiro no comércio. Existindo grandes e sortidas lojas comerciais como: Casa Zaire, Casa Kalume e A Limitada. Nesta época não havia casas residenciais, nem comerciais às margens do Rio Acre, na cidade de Xapuri. Existiam vários portos como: Porto do Zaire, Porto da A Limitada, Porto da Casa Galo, Porto do Kalume e outros. As famosas casas aviadoras A Limitada e Casa Kalume era quem detinha a maior parte do comércio da época. As fachadas bastante imponentes já antecipavam o poder econômico de seus proprietários. O interior muito amplo abrigava suntuosa escadaria e

Xapuri: Lugar de Memórias

A tradição oral das populações amazônicas foi levada das matas para os centros urbanos que foram se formando ao longo do tempo. Essas memórias se estenderam, levando consigo uma forma peculiar de contar e recontar as histórias de um povo multicultural, que construía sua vida e suas vivências nas florestas do Acre. Em se tratando das memórias do seringueiro suas histórias eram ricas nos temas: seringal, colocação, extração da seringa, suas lendas e mazelas enfrentadas em um território até então desconhecido. As narrativas dos moradores de Xapuri são como florestas povoadas de ideias, que permeiam as vivências e os sentimentos intrinsicamente ligados com suas histórias, demonstrando sua identidade e destacando sua representatividade para a história de todo o Acre e da própria Amazônia. Como se sabe, Xapuri foi povoada por seringueiros nordestinos, tentando escapar de suas iniciais mazelas, como a própria seca, mas também por comerciantes sírios, libaneses, portugueses e espanhó

Quintais Literários: Do Acre para o mundo

Ambientes não convencionais para a arte. Talvez essa seja a definição mais simples sobre um projeto que anda encantando o Acre.  Já pensou em fazer arte em um quintal?  Pois é possível. É o que mostra Clenes Guerreiro, artista e diretor de teatro responsável por criar uma ideia que tem transformado a vida de artistas da região, de vizinhos, parentes e amigos. Clenes Guerreiro é formado em Teatro pela Universidade de Brasília (UnB) e trabalha com Teatro e contação de histórias desde 1999, apresentando em cidades do Acre, outros estados e até mesmo na Bolívia e Peru. Em 2008 resolveu ajudar o irmão a desenvolver melhor a leitura e a escrita e começou a fazer arte em seu quintal, transformando o processo de aprendizagem num momento único, lúdico e artístico. A ideia deu tão certo que começaram a aparecer outras crianças da vizinhança e logo estavam pedindo paa levar a ação para outros quintais da região. O projeto chegou a ser indicado e foi finalista do Prêmio VivaLeitura 2011. Em 2019 f

A onça-pintada

A onça-pintada é um grande felino, colorido e com pintas escuras que encanta e amedronta as matas amazônicas. A onça-pintada, assim como o leão em terras estrangeiras, é a rainha da floresta, sendo um mamífero carnívoro de grande porte, podendo chegar ao peso de 56 a 92kg e comprimento variando de 1,12m a 1,85m. Considerado um animal solitário, está no topo da cadeia alimentar na Amazônia, podendo comer qualquer animal que consiga capturar – o que não exclui o próprio homem (por ele temida e por este muito caçada, resultando na entrada na lista de animais em extinção). Contam os moradores das matas que a onça costuma perseguir os moradores nas caçadas ou enquanto saem para cortar seringa nas madrugadas. Não são raros os casos dos seringueiros que se arrepiam ao ouvir os esturros desse grande animal, mesmo que a onça não esteja tão próxima. O grande felino está entre os perigos que os moradores das florestas enfrentavam, dos quais dentre eles estavam: as doenças, os inset

Projeto Transmeio: Educação de Trânsito e Meio Ambiente nas Escolas de Xapuri

Você já teve a oportunidade de conhecer o projeto Transmeio: Educação de Trânsito e Meio Ambiente nas Escolas de Xapuri ? Este projeto, aprovado no edital de Fomento e Incentivo Direto à Cultura de 2019 pela Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour (FEM), tem como principal objetivo levar palestras lúdicas e apresentações de esquetes teatrais às escolas da rede estadual de ensino do Município de Xapuri, com enfoque na educação de trânsito e conscientização ambiental. O Transmeio busca abordar essas questões de forma criativa, utilizando recursos como teatro, música e formas animadas para engajar e educar crianças e adolescentes. O projeto é fruto da parceria entre a proponente Maria de Lurdes Alves, também conhecida como Dona Boneca, e o Departamento Estadual de Trânsito, por meio da 5ª Circunscrição Regional de Trânsito de Xapuri (5ª Ciretran). Maria de Lurdes Alves, com sua vasta experiência de mais de 10 anos trabalhando com crianças e adolescentes no município de Xapuri,

A lenda da Cobra Grande

Muitas lendas povoam o imaginário dos povos que moram nas matas amazônicas. Essas lendas caracterizam a identidade de um povo e diz muito sobre seus costumes e crenças. Uma dessas lendas bem conhecidas em Xapuri é a da Cobra Grande – dizem até que uma delas habita os buracos profundos e desconhecidos dos Rios Acre e Xapuri, se alimentando de animais de médio e grande porte e sendo responsável também pelo sumiço de algumas pessoas nas barrentas águas doces desses rios. Como a lenda surgiu? Existem muitas versões. Uma delas diz que alguns animais das águas amazônicas tem a magia especial e inexplicável de, em determinadas fases lunares, se transformar em gente e seduzir as donzelas indefesas. Conta-se que um dia uma índia foi seduzida por uma cobra grande “encantada” em forma de bonito homem. Depois disso a índia engravidou e teve os filhos gêmeos: Honorato e Maria. As crianças nasceram muito semelhantes a cobras e a mãe os jogou nas águas do rio. Enquanto Honorato era a pers

O Hino de Xapuri

O Hino de Xapuri tem como autor da letra, o cearense de Fortaleza, nascido em 02 de fevereiro de 1921 “Fernando de Castela Barroso de Almeida”, radicado no Acre em 1943. Trabalhou cortando seringa no Seringal Liberdade, no Alto Purus, escolhido para ser escrevente e redator de cartas do patrão, logo passa a ser gerente e anos depois mudar-se para Manuel Urbano. E logo em seguida fixa residência em Rio Branco. Escritor, poeta e jornalista, publicou as obras literárias Poesias Matutas e Poesias ao Deus Dará. Segundo o mestre Zuca, seu amigo, a letra do Hino de Xapuri foi escrita em Rio Branco-AC. A música do Hino de Xapuri foi instrumentalizada pelo mestre de música Sargento JOSÉ LÁZARO MONTEIRO NUNES, falecido na cidade de Rio Branco, em 07 de setembro de 1988, aos 59 anos de idade. Hino de Xapuri I Página viva da história acreana recebe o nosso afeto e gratidão reverente o teu povo se irmana neste hino que é hino e oração II Terra formosa, terra gentil És Princesa do Acr

Arquitetura: Construções na Cidade do Xapury

No início da história xapuriense, quando os primeiros exploradores aqui chegaram, encontrando apenas os nativos, as construções passaram, basicamente, por três situações distintas e ao mesmo tempo complementares: a arquitetura dos primeiros seringais, a arquitetura importada pré-fabricada e por fim a arquitetura em madeira resultante das experiências com as duas anteriores que podemos chamar de cabocla por sua evidente base cultural. Na arquitetura dos primeiros seringais, João Damasceno Girão, um dos primeiros pioneiros a ocupar o espaço natural de Xapuri provavelmente se deparou com a dificuldade inicial de “como construir”, “com o que construir” “com quem construir”. A palha e a madeira eram disponíveis em abundância. Havia o índio que entendia da região e sabia como armar sua pousada e o tapiri foi então erguido sobre essas bases – mais tarde se tornando moradia para o seringueiro, adaptando novas e eficientes matérias-primas da natureza, movido pela necessidade de sobrevivênc

A vida do seringueiro - Parte I

Acordar cedo, antes do raiar do sol, já era uma tradição do seringueiro. Percorrer as longas estradas de seringa, extraindo o látex – ou “cortando seringa”, como chamavam – acentuando o hábito cotidiano dos viventes das florestas. Ao sair, antes do sol nascer, a poronga – artefato, adereço de trabalho, mais parecido com uma lamparina sobre uma estrutura metálica que tinha o encaixe da cabeça, como se fosse um rústico chapéu – era a companheira mais próxima do trabalhador das matas xapurienses amazônicas. A mata era sua casa. Quando não estavam coletando látex, colhiam castanhas – em épocas específicas – e praticavam a caça, buscando alimentos para garantir o sustento da família. Dessa extração do ouro negro amazônico não tinha exclusividade dos maridos “provedores”. Por muitas vezes, não era raro, até mesmo as crianças auxiliavam no trabalho, ou mesmo as mulheres da casa. Uma ajuda mútua necessária para a difícil vida nos seringais. A alimentação era complementada

Casa Branca em Xapuri: Intendência Boliviana ou Hotel de Luxo?

No dia 26 de março de 1926, o jornal Folha do Acre deu início a uma série de publicações sobre Xapuri. A perspectiva do periódico era demonstrar como a crise da borracha afetara a mais promissora cidade do Território Federal do Acre. Em um primeiro momento, o jornal destaca o “assombroso desenvolvimento do município”, ocorrido entre os anos de 1905 a 1915: "Xapuri possuía luxuosos hotéis, boas padarias, dotadas de máquinas para produzir gelo, e estabelecimentos comerciais exploradores de diversos negócios. Cassiano Silva, cearense da Revolução Acreana, construiu o Hotel Casa Branca. Antônio Dias de Oliveira, luso-brasileiro, muito concorreu para o progresso de Xapuri, montando um estabelecimento com aperfeiçoados maquinismos (sic) que, por algum tempo, forneceram luz elétrica à cidade. Augusto Maria da Rocha Neves e José Nolasco Correia do Rego foram os maiores construtores de habitações em Xapuri. Junto com Paulo de Moraes, construíram, em 1911, o Teatro Variedades, inc

A querida Xapuri

Fundada em 1883 com a chegada dos primeiros exploradores a região do Alto Acre, no final do século XIX, Xapuri era ainda um pequeno povoado com poucas casas e barracas que abrigavam cerca de 150 pessoas. A partir da década de 10, Xapuri teve uma vida econômica e sócio-cultural bastante agitada. Sua produção de borracha e sua população aumentavam continuamente. Foram construídas novas casas e instaladas a Intendência Municipal e outras repartições públicas. Enquanto nas colocações dos seringais as moradias eram constituídas apenas de uma barraca erguida no meio de uma clareira para abrigar o seringueiro, nas sedes dos seringais, como nas cidades, os casarões eram construídos seguindo modelos e utilizando matérias-primas importadas. A Rua do Comércio oferecia de tudo que seus clientes pudessem necessitar: comidas variadas, louças, calçados, tecidos, armas, medicamentos, bebidas, música e diversão. Nessa rua se localizavam também hotéis, barbearias, banco e "clubs" so

História Multimídia de Xapuri: O Projeto

Xapuri é a cidade que viu nascer os tempos do desbravamento da região, Revolução Acreana, a opulência vinda da extração do látex, o declínio da exploração da borracha, a devastação da floresta para a criação de pastos, os empates, a vida e a morte de Chico Mendes, e tantos outros líderes seringueiros e diversos acontecimentos que fizeram do Município um dos mais representativos em nosso Estado. Entretanto, embora esses acontecimentos e as transformações que eles trazem ou provocam tenham tido enorme repercussão e significância no seio da sociedade xapuriense, nos últimos anos muitos dos aspectos que ilustram o cotidiano e a luta dos trabalhadores rurais estão se perdendo na memória coletiva das populações tradicionais. As fases anteriores da nossa história foram lentamente fugindo da memória da população. E foi pensando no risco de ver todas essas histórias fugindo do imaginário dos povos tradicionais, esquecendo fatos importantes sobre nossa cultura, que surgiu o Projeto His