Pular para o conteúdo principal

Idosos: Patrimônio Amazônico

É preciso valorizar quem muito fez pela história dos lugares. Esse é o pensamento que povoa a mente de muitos historiadores e profissionais que trabalham com o patrimônio imaterial inerente a tudo que pode ser transformado – ou apurado – em verdadeiros tesouros de valor inestimável.
Patrimônio imaterial é tudo aquilo que não é palpável mas é carregado de elementos que trazem consigo valores imensuráveis que caracterizam um lugar, um povo, particularizando-os e lhes dando posse.

Em Xapuri, muitos senhores e senhoras trazem no rosto as marcas de um passado cheio de lutas, trabalho e muitas dificuldades enfrentadas após escolher o Acre como roteiro de vida – ou escapatória de situações complicadas e sofridas que, diferentemente do que era alardeado em épocas passadas, apenas piorou ao se chegar nas terras da Amazônia.
Certamente é possível perceber que aqui fala-se daqueles que vieram de diferentes estados – principalmente do Nordeste – trabalhar como soldados da borracha. Não encontraram aqui o dinheiro farto, semelhante a folhas secas de árvore que caem sobre o chão, conforme anunciado, mas trabalho excessivo na extração do látex em decorrência de sua demanda mundial.
Esses nobres guerreiros trouxeram sua cultura e a misturaram
com a que encontraram pelas bandas das terras de floresta, criando uma espécie de cultura nova, a cultura cabocla.
Suas histórias, lendas, jeito de falar, comidas, vestimentas, crenças, se misturaram – e se adequaram – ao ambiente novo que encontraram.
Décadas mais tarde, na contemporaneidade, a realidade é um pouco diferenciada, mas a história conta com a autoria dessas pessoas, hoje idosas, que nem sempre são lembradas com tamanha importância.
Muito da história de Xapuri, do Acre e da Amazônia é proveniente dos idosos que, infelizmente, estão morrendo e levando com eles sua riqueza cultural. Esse patrimônio cultural imaterial deveria ser registrado, para que pudesse ser resgatado e disponibilizado através de publicações e diversificadas mídias para que não se perca – e seja transmitido às novas gerações.
Somente quem valoriza suas raízes pode compreender e valorizar sua identidade – e esses idosos merecem não apenas respeito mas o empenho para a salvaguarda de todo o tesouro imaterial importantíssimo para a caracterização dos povos amazônicos e seu lugar nessa sociedade brasileira.
Que seja feita a sua parte para que tamanho patrimônio imaterial não se perca com a voracidade do tempo, deixando um elo na compreensão da identidade amazônica!


Fotos:

*As fotos são de Talita Oliveira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jacamim

O jacamim mora na floresta, costuma andar de bando com 10 a 15. É uma ave interessante, de cor branca com preto, tem o pescoço comprido, as pernas finas e grandes. Durante o dia anda no chão, porém à noite ele voa para uma árvore alta para dormir, pois assim se sente mais protegido. Ele gosta de esturrar de dia e à noite quando está na dormida. Corre muito na restinga e até no mato cerrado, como no esperaizal e no tabocal. Se alimenta de frutas de copaíba, guariúba, manitê, pama e itaúba; de insetos como formigas, aranhas e besouros, de embuá, minhocas da terra firme, mossorondongo e gongos. Além disso o jacamim ainda se alimenta de animais como a cobra, o sapo e o jabuti. A história do jacamim é quase idêntica à do queixada: por onde eles passam acabam com tudo o que tem pela frente. Apesar de ser um pássaro é muito perigoso para outros animais pequenos. Faz o ninho em paxiúba ou em pau ocado. Põe até 4 ou 5 ovos e sempre quem choca é o casal. Isso acontece no fim do verão. Qua

A vida nas famílias xapurienses (Período de 1940 – 1960)

Nas décadas de 1940 a 1960 as famílias xapurienses tinham seus valores centralizados na educação familiar, escolar e religiosa. A família era patriarcal, conservadora e tradicional. O pai representava a figura central, onde todos deviam temê-lo e obedecê-lo, fazendo aquilo que ele mandava e não o que ele fazia. A figura da mãe era vista como a “rainha do lar” onde tinha obrigações de cuidar bem dos filhos, marido e dos trabalhos domésticos. Cabia somente aos homens trabalhar “fora” e garantir o sustento da família. As mulheres desempenhavam sua função dentro do lar, pois, na vida pública, ainda não havia conquistado os seus espaços. Eram muitas vezes reprimidas de seus desejos, anseios, sonhos vivendo subjugadas às ordens de seus esposos. O pais é que escolhiam a “pessoa ideal” para casar com seus filhos, dependendo da classe social e da família em que estavam inseridos. A maioria dos casamentos se dava por interesse econômico entre ambas famílias. Os filhos, desde cedo, eram e

O Hino de Xapuri

O Hino de Xapuri tem como autor da letra, o cearense de Fortaleza, nascido em 02 de fevereiro de 1921 “Fernando de Castela Barroso de Almeida”, radicado no Acre em 1943. Trabalhou cortando seringa no Seringal Liberdade, no Alto Purus, escolhido para ser escrevente e redator de cartas do patrão, logo passa a ser gerente e anos depois mudar-se para Manuel Urbano. E logo em seguida fixa residência em Rio Branco. Escritor, poeta e jornalista, publicou as obras literárias Poesias Matutas e Poesias ao Deus Dará. Segundo o mestre Zuca, seu amigo, a letra do Hino de Xapuri foi escrita em Rio Branco-AC. A música do Hino de Xapuri foi instrumentalizada pelo mestre de música Sargento JOSÉ LÁZARO MONTEIRO NUNES, falecido na cidade de Rio Branco, em 07 de setembro de 1988, aos 59 anos de idade. Hino de Xapuri I Página viva da história acreana recebe o nosso afeto e gratidão reverente o teu povo se irmana neste hino que é hino e oração II Terra formosa, terra gentil És Princesa do Acr