Pular para o conteúdo principal

Os bobos de Xapuri

Por João Roberto Braña Bezerra

Meu filho João Lucas, um jovem de 18 anos - ia passando por um desses restaurantes de beira de esquina da capital, vestindo uma camiseta com a imagem de Chico Mendes, quando uns caras que almoçavam o chamaram e se apresentaram como ‘moradores de Xapuri’. Perguntaram a ele por que usava aquela blusa.

Antes de meu filho esboçar alguma reação e responder qualquer coisa os bobos de Xapuri começaram a enxovalhar Chico Mendes, o acusando de absurdos que nós todos já estamos acostumados a ouvir e a não dizer nada, na maioria das vezes. O nível dos argumentos usados para intimidar meu filho foi muito baixo. Resultado: isso confundiu ou pelo menos fez meu filho me questionar sobre quem tinha sido mesmo Chico Mendes.

Falei a ele que os ataques a Chico Mendes fazem parte de uma luta política que se trava no Acre e na Amazônia atualmente – hoje com mais intensidade. Uma luta ideológica. E que essas pessoas que o abordaram, esses bobos de Xapuri [não sei se são mesmo de lá] não sabem ou não querem reconhecer a importância de Chico para o Acre, o Brasil e o mundo. Independente dos seus problemas que teve como pessoa – bastante ressaltados pelos bobos de Xapuri – Chico Mendes ajudou o Acre a chamar à atenção para o problema do ambiente. E, que, mesmo assassinado pelos opositores da floresta ele continua ajudando o Acre a seguir em frente. O Acre mudou graças a Chico Mendes. Não é frase feita. É fato.

Constato ainda que esses adversários do ambiente, defensores do modelo rondoniense de ‘prosperidade’, estão se agigantando no Acre. Meu filho ficou em dúvida depois dessa conversa com esses reacionários – seriam trogloditas? - de Xapuri.

Por fim, disse a meu filho que ele precisava estudar mais esse assunto para entender melhor sobre as necessidades do planeta e dessa luta ideológica, política, que se trava no dia-a-dia aqui no Acre e na Amazônia.

Sinceramente: fiquei preocupado que pessoas que se dizem de Xapuri ainda não conseguiram compreender o significado de Chico Mendes para as suas vidas e a vida no Acre. Para esses o que valeu mais foi a vida pessoal, repleta de ‘defeitos’ que Chico Mendes possivelmente levou enquanto estava vivo. A causa e a bandeira que ele empunhou, essas, não valeram absolutamente nada para os bobos de Xapuri.

Decidi: vou comprar uma camiseta com a imagem de Chico Mendes.


*João Roberto Braña Bezerra é professor e jornalista em Rio Branco e transcreve suas ideias no Blog do Braña.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jacamim

O jacamim mora na floresta, costuma andar de bando com 10 a 15. É uma ave interessante, de cor branca com preto, tem o pescoço comprido, as pernas finas e grandes. Durante o dia anda no chão, porém à noite ele voa para uma árvore alta para dormir, pois assim se sente mais protegido. Ele gosta de esturrar de dia e à noite quando está na dormida. Corre muito na restinga e até no mato cerrado, como no esperaizal e no tabocal. Se alimenta de frutas de copaíba, guariúba, manitê, pama e itaúba; de insetos como formigas, aranhas e besouros, de embuá, minhocas da terra firme, mossorondongo e gongos. Além disso o jacamim ainda se alimenta de animais como a cobra, o sapo e o jabuti. A história do jacamim é quase idêntica à do queixada: por onde eles passam acabam com tudo o que tem pela frente. Apesar de ser um pássaro é muito perigoso para outros animais pequenos. Faz o ninho em paxiúba ou em pau ocado. Põe até 4 ou 5 ovos e sempre quem choca é o casal. Isso acontece no fim do verão. Qua

A vida nas famílias xapurienses (Período de 1940 – 1960)

Nas décadas de 1940 a 1960 as famílias xapurienses tinham seus valores centralizados na educação familiar, escolar e religiosa. A família era patriarcal, conservadora e tradicional. O pai representava a figura central, onde todos deviam temê-lo e obedecê-lo, fazendo aquilo que ele mandava e não o que ele fazia. A figura da mãe era vista como a “rainha do lar” onde tinha obrigações de cuidar bem dos filhos, marido e dos trabalhos domésticos. Cabia somente aos homens trabalhar “fora” e garantir o sustento da família. As mulheres desempenhavam sua função dentro do lar, pois, na vida pública, ainda não havia conquistado os seus espaços. Eram muitas vezes reprimidas de seus desejos, anseios, sonhos vivendo subjugadas às ordens de seus esposos. O pais é que escolhiam a “pessoa ideal” para casar com seus filhos, dependendo da classe social e da família em que estavam inseridos. A maioria dos casamentos se dava por interesse econômico entre ambas famílias. Os filhos, desde cedo, eram e

O Hino de Xapuri

O Hino de Xapuri tem como autor da letra, o cearense de Fortaleza, nascido em 02 de fevereiro de 1921 “Fernando de Castela Barroso de Almeida”, radicado no Acre em 1943. Trabalhou cortando seringa no Seringal Liberdade, no Alto Purus, escolhido para ser escrevente e redator de cartas do patrão, logo passa a ser gerente e anos depois mudar-se para Manuel Urbano. E logo em seguida fixa residência em Rio Branco. Escritor, poeta e jornalista, publicou as obras literárias Poesias Matutas e Poesias ao Deus Dará. Segundo o mestre Zuca, seu amigo, a letra do Hino de Xapuri foi escrita em Rio Branco-AC. A música do Hino de Xapuri foi instrumentalizada pelo mestre de música Sargento JOSÉ LÁZARO MONTEIRO NUNES, falecido na cidade de Rio Branco, em 07 de setembro de 1988, aos 59 anos de idade. Hino de Xapuri I Página viva da história acreana recebe o nosso afeto e gratidão reverente o teu povo se irmana neste hino que é hino e oração II Terra formosa, terra gentil És Princesa do Acr