Maria se sentou no banco da sala da casa de paxiúba. Vestia uma roupa simples, porém muito elegante, a melhor que tinha e não parava de esfregar as mãos em sinal de seu nervosismo. Tinha passado a alfazema no pescoço – a gosto e à vontade.
Olhava para o varadouro que dava em frente a sua casa. Já passavam das 6h da tarde e começava a escurecer. Pensava que talvez ele não viesse. Também, depois da conversa com o pai, no dia anterior, imaginava que ficaria para tia. Pedir alguém em namoro em plena década de 1950, nos seringais acreanos, não era uma tarefa para covardes. Mas Toninho não era covarde, ela sabia.
Olhou para o céu. Quanto mais escurecia mais Maria ficava ansiosa.
O pai ouvia rádio e fumava seu cachimbo com fumo que ele próprio produzira. Tinha esse hábito desde que se mudaram para o Seringal Remanso, quando ainda era muito pequena. Zé Firmino sempre fazia isso. O que mudara é sua conversa longa, com voz grossa e alta, que emudecera após a morte de sua esposa Generosa, cinco anos antes.
Maria lembrava que os pais se gostavam tanto que quando Generosa morreu Zé Firmino sua vida se transformou apenas em trabalho. Por mais que insistissem nunca mais voltou a namorar – e nem a sorrir, o que tornava sua expressão mais dura que o normal, prejudicando seu namoro com Toninho.
Seus pensamentos vagavam quando Toninho apareceu na beira do varadouro. Cabelo gomado, penteado para o lado, camisa velha (a mais nova que tinha) e sua única calça de sair – a outra era para o trabalho nas estradas de seringa.
Achou que seu coração ia sair pela boca.
- Boa noite – Disse em voz falhada e cabeça quase totalmente baixada.
- Boa! – Respondeu secamente seu Zé Firmino.
- Vim cortejar sua filha. – E deu um longo e carinhoso olhar para Maria, que avermelhava todo o seu rosto.
- Pensei que o cabra não voltava mais aqui depois que veio pedir minha filha em namoro na noite passada e quase que lhe expulsei, homem.
- Minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis....
- Acho bom – e mandou o moço se sentar.
Toninho sentou-se ao lado de Maria, ao ponto que Zé Firmino sentou ao centro, separando os dois. Continuou fumando seu surrado cachimbo, aumentando o volume do rádio.
Maria não ouvira sequer uma palavra de seu amado, envergonhado, mas estava feliz pelo consentimento, mesmo do seu jeito, do velho e querido pai.
Quando eram 8h da noite Zé Firmino anunciou:
- Já está na hora do cabra ir pra sua casa, pois minha filha ainda tem um pai.
Toninho assentiu com a cabeça, levantou-se, foi até a porta. Maria o seguiu sob o olhar atento do pai.
Quando Zé Firmino foi novamente acender o cachimbo, Toninho aproveitou, meteu a mão no bolso da carta e entregou um bilhete à Maria, que o guardou entre os seios. Beijou a sua mão, fazendo com que a moça, ainda com seus 16 anos, tremesse inteira.
Quando Zé Firmino voltou Toninho se despediu novamente e saiu, no meio da noite, para caminhar cerca de 2h até a sua colocação.
Maria foi correndo para o quarto, acendeu sua lamparina e foi ler as palavras surradas de Toninho: “Não consigo viver mais sem você, meu dengo. Vou aí te buscar essa noite, quando a lua atingir o meio do céu. Quero que seja minha mulher.”
A moça achou que seu coração ia explodir de felicidade. Como as suas outras três irmãs – e a própria mãe – ia fugir com o seu amado. Teria vários filhos e sabia que seria muito feliz, pois tinha certeza que aquele era o homem da sua vida.
Escondeu novamente a carta entre os seios, foi até o pai e lhe deu um beijo na testa. Voltou ao quarto, deitou e ficou esperando a lua encontrar seu centro no céu.
Aquele era o início de uma grande história de amor.
Ilustração:
do Blog Setentaeeuajudo
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