
Por Cleilson Alves
Fico pensando o quanto de histórias Xapuri tem para contar, principalmente quando as florestas e os povos que nela residem expõem suas particularidades, através de pequenos eventos, por exemplo, que são tão costumeiros para a gente e tão importantes para eles.
Digo isso porque fiquei refletindo sobre a riqueza imaterial de nossa gente e imaginei que podemos deixar “imortalizada” com as novas tecnologias – cada vez mais evidentes nos dias atuais.
Convidado para uma festa de aniversário do meu primo João Felipe, no dia de ontem, no Seringal Floresta, Colocação Bom Princípio, pude perceber que as peculiaridades da festa de 6 anos de idade davam um toque todo especial à comemoração dentro da mata.
Não que não fosse uma festa de aniversário comum, com a musiquinha de “parabéns pra você”, presentes, bolo, velinhas a serem sopradas após fazer um pedido, gente tirando foto, dando felicitações, enfim, alguns aspectos eram costumeiros.
Mas na mata, é preciso destacar, tem um toque a mais, especial.
A começar pela casa, distante e no meio da mata, a cobertura de palha que abrigava tantas pessoas, a família e os amigos, os pais hospitaleiros, as crianças brincando no meio das árvores, as fotos que teriam como pano de fundo o verde-floresta sem poluição, barulhos incessantes de grilos, sapos, pássaros, macacos.
A própria ida ao seringal – mesmo de carro, meio de transporte moderno para aquela região – tudo tornava a festa especial.
Aproveitei para registrar as histórias contadas por Luciano e Nenê, pais do aniversariante, que incluíam lendas, estórias de “malassombro”, as onças que deixavam rastros ameaçadores por toda a parte, as dificuldades enfrentadas pelo povo da região ao longo do tempo – tudo que fazia daquela viagem um ganho histórico e cultural.
Para fechar, não fiquei para o prometido “rala-bucho” no início da noite mas me senti privilegiado de ter tido momentos diferenciados, únicos, em um evento no meio da mata, onde não pude apenas respirar um ar puro mas ver como é interessante e de uma riqueza ímpar ir a uma festa no seringal!
Cleilson Alves é estudante, ator e contador de estórias/histórias. Faz um interessante trabalho de promoção da leitura em seu próprio quintal, onde transmite arte, cultura e literatura com muita alegria a crianças do seu bairro e das comunidades vizinhas - tudo com recursos próprios (pouquíssimos) e com a ajuda de amigos. Seu amor pela leitura começou há poucos anos e já se reflete no seu modo de pensar, escrever e agir. Foi o Jovem selecionado para representar o Acre no Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial.
Fotos:
*1 - Visão da casa no meio da mata - por Cleilson Alves;
*2 - João Felipe (terceira criança da esquerda para a direita) - Por Cleilson Alves.
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