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Empate

A cidade de Xapuri, foi respeitada por ter surgido em uma região considerada grande produtora de castanha e borracha. Está assentada em terras cobertas por uma imensa floresta onde existiam vários seringais nativos de grande produção.

Da época de 30 à meados dos anos 60, Xapuri era grande exportadora de borracha, castanha e pele de animais silvestres. Essa produção era realizada por seringueiros, homens que vivem embrenhados nas matas. Eles passavam praticamente todo o ano produzindo as pelas e coletando castanhas na época da safra para vender aos patrões. Assim, os seringueiros conseguiam sobreviver em suas Colocações. Alguns tiravam saldo "gordo" que vinham gastar na cidade, comprando roupas e outros acessórios para toda a família, e utensílios de casa, como também participavam dos forrós dançando noite a dentro.

Época esta em que Xapuri recebeu o nome de "Princesinha do Acre", levando este nome em virtude do progresso que reinava nesta terra durante o ciclo da borracha e da castanha.
Chega outra realidade para esse povo que, embora trabalhando ardentemente, era feliz. É que na década de 70, houve uma propaganda ferrenha no sul do País, onde se dizia que: "O Acre é o nordeste sem seca e o sul sem geada".

Com isso, grandes fazendeiros e outros sulistas resolveram investir em nossa região, simplesmente com o único objetivo de transformar nossa floresta em campos de pastagens, para a criação de gado-de-corte.

Os seringalistas iniciam a venda de suas áreas aos fazendeiros sulistas, onde, em pouco tempo, perderam o nome de seringais e passaram a ser chamados de “fazendas”.

Iniciam-se as transformações das matas em campos. São adquiridas autorizações dos órgãos competentes para as derrubadas. Nesse processo, as castanheiras, seringueiras e outras valiosíssimas árvores, como também algumas espécies de animais e vegetais, são destruídas pelas derrubadas e queimadas.

Constitui-se, desta forma, as expulsões dos seringueiros e posseiros que habitavam as regiões afetadas pelas derrubadas violentas, quando fazendeiros agiam de forma a matar alguém das famílias, queimando as casas e, algumas vezes, pagando insignificantes indenizações. Atos de violência, ameaças e atentados.

Daí a necessidade de mostrar as formas de resistência desses trabalhadores da floresta contra a destruição do seu meio de sobrevivência.

O empate foi fruto de uma necessidade, e, foi a partir dessa necessidade que levou os seringueiros a se juntar em grupo e partir para fazer aquilo que se chama de empate e essa necessidade foi devido a destruição que a floresta vinha tendo. Empate significa manter a floresta em pé.

O empate é um movimento organizado pelos próprios seringueiros, para impedir a destruição, tanto da fauna como da flora, que são meios de sobrevivência desses homens. O empate é uma forma de impedir que sejam expulsos de suas terras.

Quando se fala em movimentos organizados por seringueiros, refere-se a homens, mulheres e crianças. As mulheres, ora participavam à frente dos empates, ora participavam preparando a alimentação para os seus companheiros. O papel da mulher e das crianças no empate é muito importante. É um meio de estratégia que o seringueiro, através do movimento, resolveu fazer para evitar violência; então ia mulher com crianças no colo, velhas, mulheres novas, crianças que andavam já participava do empate para evitar violência.

Com base em sua experiência de empate, na resistência aos desmatamentos, os seringueiros propõem uma alternativa para a Amazônia e para si mesmos, para a sua sobrevivência: as reservas extrativistas. Trata-se de preservar a floresta, os rios, os animais, respeitar a natureza como espaço e parte da própria vida. Mas trata-se também, de desenvolver uma economia adaptada, não destrutiva, capaz de garantir a riqueza material dos povos da floresta.


Fonte Pesquisada:
* Dossiê: Trabalhadores de Xapuri – Xapurys 2 – Alunos do Curso de História da UFAC em Xapuri – 1996.


Fotos:

*1 - Entrada do Seringal Cachoeira - de Dhárcules Pinheiro;

*2 - Pôr do Sol - de Caticilene Rodrigues;

*3 - Gado de corte - de Caticilene Rodrigues.

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